sexta-feira, 27 de abril de 2012

25 de Abril: marcha atrás

E a Carris sempre a surpreender-me. Desta vez, foram os novos métodos de apelo ao "valide verde".

Com a Madalena ainda na cabeça, depois do meu nobby-night concert de quarta à noite, um tal de 28 para Miraflores - mais uma das inovações da Era da Austeridade - aparece para me levar a casa.

Tinha um ar aconhegante, tinha: até o shôr condutor tinha ar de Avô Cantigas. Que há quem entre sem pagar bilhete, já todos sabemos, apesar de ainda me conseguir surpreender com certas manhas que vou descobrindo. Ontem a manha era a mesma de sempre: entrar, passar um cartão qualquer, apitar vermelho, não passar cartucho, o condutor grita "ó-faxabor-tem-que-validar" e todos ignoram.
Só que, depois disso, lembrei-me que estávamos a 25 de Abril: o Avô Cantigas saiu do seu lugar e chamou incansavelmente os alegados infratores à dianteira do autocarro para os fazer pagar. Apareceu um, que entretanto deve ter descoberto um cartão no bolso de trás das calças (boxers de fora dificultam o processo), para validar verde e mandar um ar gingão. Um diálogo agressivo-amistoso seguiu-se mas o nosso avô não esteve com meias medidas e mandou-os sair.
Ai não saem?
'Então já vão ver'...

Começa a fazer marcha atrás ao percurso todo que já tinha andado, e ainda recuou para além da própria paragem onde havíamos todos entrado. Segundo o senhor, "desculpem lá", mas se eles não pagassem nem saíssem não podíamos continuar. E voltámos atrás.


Ora eu, na minha ignorância, pensei: se todos os senhores condutores fizessem isto, ninguém chegava ao destino. Ou chegávamos, mas com o recuo metido a fundo e apanhando o autocarro na paragem contrária à que seria suposto - nada que nunca tenha feito, vá.
Mas afinal, para que servem os revisores?
Para que servem as multas?
Também não gosto de injustiças, mas o condutor conduz, não anda com um cacetete na cintura atrás de quem não compra bilhete, senão ninguém chega a lado nenhum.

Vá lá que, àquela hora, éramos cinco ou seis no autocarro e não havia ninguém com um guarda-chuva pontiagudo para ameçar os trabalhadores da carris (essa pérola de episódio!).


Tensão e 5 minutos depois, lá saíram.
Os meus ossos só queriam ir pra casa, a Madalena só queria ecoar na minha cabeça, mas porque raio os dias têm que terminar assim?

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Sim(tonizar)!

Ouvir uma música que gostamos na rádio tem sempre outra emoção.
Ouvir uma música que teima em não nos sair do ouvido numa rádio local, acabadinha de descobrir entre sintonizações de estações de forró e anúncios de frango congelado do talho da freguesia, tem ainda mais emoção.

Ainda para mais, quando estamos naquela fase da viagem em que já não conseguimos olhar mais para o livro, estamos cansados de ter que sintonizar novas estações a cada quilómetro, e todas as músicas do mp3 nos soam a playlists chungas dos anos 90.

As cotoveladas sistemáticas da cliente do banco ao lado e o bichos carpinteiros da senhora da frente - que inclinava e desinclinava o banco a cada 5 minutos - pareceram-me simpatias de domingo.


Mais uma vez, aprendi que não devo desdenhar do que não conheço: encontra-se muita coisa boa nas estações locais e regionais por esse país fora, e não é só em Lisboa que o acto de ligar a rádio me rouba um sorriso idiota.



Vou passar a fazer mais viagens de expresso.
Quero ter mais surpresas destas.



quinta-feira, 19 de abril de 2012

A patinar

Chuva.
Piso Molhado.
Autocarro.
Condutora de automóvel com ramelas nos olhos/tentativa idiota de ultrapassagem.
Taxista mortinho para activar o seguro do carro.

Eu ali, a 50 centímetros.
Encontrão no autocarro.
Táxi revirado.



Estão a brincar, porra?!!!!
Vão acelerar o batimento cardíaco matinal da vossa mãe!
Pra outra via!


...or don't you come at all?
O que nós suportamos por ti, Assunção...

sábado, 14 de abril de 2012

Dia internacional do beijo: sexta-feira 13

Casais apaixonados utentes de transportes públicos: pede-se contenção em manifestações de maior fôlego em horas de ponta.
Ontem, no metro a caminho do trabalho, dois passaram o tempo todo a fazer jus ao dia que se comemorava. Quando paravam, traziam à baila aquele tipo de diálogo produtivo próprio de quem também não se sente à-vontade:

Ela: (inclina a cabeça para o lado)
Ele: O que é que tens?
Ela: Nada.
Ele: Hum. (inclina também a cabeça para o mesmo lado)

E recomeçavam.

Naquela altura senti uma profunda falta dos meus phones a berrar-me nos ouvidos, para não ter que testemunhar aquele strange time. Os meus olhos, que andam habitualmente fixos no teto da carruagem, já nem sabiam para que distância virar. Aquela estória da flor-mistério deve andar surtir efeitos de romantismo na linha azul, pensei eu...


Coisa já de si perturbadora é ouvir as conversas dos outros nos transportes públicos em hora de ponta, quanto mais quando elas incluem muito amasso num metro quadrado para 10 pessoas.

Outra vez, no 742, dois faziam um espalhafato tal que todos à volta se desviavam e os solavancos do autocarro parece que em vez de os separar, ainda os juntava mais. A cada curva, os que estavam ao lado levavam um encontrão duplo.

Note-se que não tenho nada contra estas manifestações, mas por uma questão de comodidade dos outros e segurança dos próprios, aconselham-se percursos menos sinuosos e horas menos congestionadas para este tipo de práticas.

O utente agradece. E a abençoada sexta-feira 13 também.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Insónia de comboio

Se há coisa que enerva no dilema regresso a Lisboa são as quatro (4!) horas de vida útil que se perdem a observar os giestais junto à linha férrea e a ouvir uma sexagenária diferente a cada viagem contar os seus porquês para o fim do mundo.

No início, bastava abrir um molho de apontamentos ou um livro mais aborrecido para que o canto da janela fosse encosto da minha cabeça até ao destino.
Esse é mesmo o pensamento a que recorro para me conseguir empurrar para fora da cama às 5h30, mas ultimamente a sensibilidade do meu sono de viagem é equivalente à dos 'tais' cristais quando o elefante entra na loja.

Ora são as habituais paragens extra que a CP adora dar ao passageiro, ora são os velhotes a berrar ao telemóvel para garantir que a distância física não rouba a mensagem ao receptor.

As conversas com os colegas do lado - sexagenários, mas vá, não só - deixamos de lado. São carradas de capítulos de iluminismo puro, qual Montesquieu.

Nem uma canção mais melodiosa ou um livro de letrinhas tamanho 8 me fazem fechar a pálpebra, coisa que só acontece nos últimos 20 minutos de viagem. O suficiente para andar a deambular o resto do dia pela capital com ar de quem "não chegou a água aos olhos", como diz o meu avô.

Hoje nem isto, que resulta sempre tão bem.

sábado, 7 de abril de 2012

3 in a row



Prometo que é o último post de introdução.

Vim só fingir que ainda me lembro do que aprendi na cadeira de Marketing e chamar à atenção da malta usando o que está na moda.

Foi minha fiel companheira numa noite de aeroporto e é uma das minhas favoritas de um álbum com o qual tenho uma relação de amor-ódio desde o início do ano.


Vai na versão "montagem-sexy-com-james-bond" que encontrei, porque me ando a evitar das versões ao vivo.

(Entretanto a versão "montagem-sexy-com-james-bond" foi apagada do Youtube, mas como insisto e não desisto de evitar as versões ao vivo, ide ouvir ao vimeo se fazem favorzinho)

Desculpem a chatice

...mas não fiz uma introdução em condições.

Olá, este é mais um blog inútil sobre coisas da vida. Belisquem-se.

O título pode iludir, mas eu não nasci em nenhum táxi, mas a ideia para este raio de blog nasceu nos transportes públicos. Belisquem-se outra vez, que isto é inédito!

São os meus melhores amigos, são os meus maiores inimigos, proporcionam-me os momentos mais hilariantes da minha curta existência e os mais deprimentes, como o de hoje, à chuva numa paragem para esperar por um autocarro que me fez perder o comboio do regresso pascal à província. Sim, aconteceu outra vez.

É mais ou menos isto que vai ser relatado aqui.
Menti quando disse que isto não eram desabafos, porque são. Desabafos mascarados de diário de bordo com banda sonora - ou seja, pior ainda.

Desculpem o abuso da palavra "desculpem", mas é frequente.

Desculpem o incómodo

...mas criei mais um blog inútil.
Não tive nenhum ataque súbito de inspiração, não entrei em nenhuma crise existencial cuja solução está na catarse pública, não me deparei com nenhuma súbita vontade de desabafar com a blogosfera.

A verdade é que o endereço ali em cima foi criado há cerca de dois meses e, qual grávida em trabalho de parto, esteve sob apertado controle de inspiração-expiração até que eu resolvesse fazer sair a criança.

Saiu.

Esta é a altura em que me apercebo que a analogia com o ciclo da vida não pode continuar, não apenas porque me recuso a chamar "bébé" ao blog, mas também porque antevejo um destino fatídico ao dito que não desejo a nenhum recém-nascido.


Vejamos o que sai daqui.